Construção de estrada para a COP30 em Belém desmata a Amazônia
- Raquel Oliveira
- 10 de abr.
- 4 min de leitura
A Região Metropolitana de Belém no estado do Pará possui poucas unidades de conservação estaduais, dos quais as mais importantes são Parque Estadual do Utinga (PEUT) e a Área de Proteção Ambiental Estadual de Belém (APAB), que se conectam.
Ambiente de grande biodiversidade, estas áreas comportam trabalhos de pesquisas que visam a proteção e a preservação da fauna e flora local, um exemplo é o projeto “Flora do Utinga”, que desde 2018 tem catalogado e classificado as espécies de plantas e fungos dos principais tipos
de vegetações do PEUT e da APAB, dados indicam que até 2023, foram catalogadas mais de 800 espécies, demonstrando que essas unidades de conservação possuem grande riqueza de espécies, apesar de serem localizadas em regiões urbanas.
No entanto, esse importante contínuo de patrimônio natural, que traz uma série de benefícios (ambiental, ecológico, turístico) para os moradores da área metropolitana encontra-se ameaçado. A construção da “Avenida Liberdade”, uma rodovia projetada para melhorar o fluxo de veículos e ser uma alternativa para entrada e saída da cidade de Belém, ligando a capital à Alça Viária, no município de Marituba é na verdade a maior violação ambiental que a região metropolitana poderia sofrer.

Helder Zahluth Barbalho, Governador do Pará, esteve na COP 28, realizada em 2018 na cidade de Dubaí e defendeu a "Floresta Em Pé" como prioridade. Em sua participação no painel “Transição econômica para a Amazônia”, realizado no pavilhão do Consórcio dos Governadores da Amazônia-Legal, Helder afirmou que: “A COP tem o objetivo de deixar um legado de infraestrutura para Belém e para a região metropolitana, mas, além disso, também tem um legado que é o mais importante de todos: o ambiental, que não será apenas para o Estado do Pará, mas para toda a Amazônia. Toda a agenda que temos, tem também a obrigação de inserir o legado floresta”.
Entretanto, distante da atenção e dos olhares de observadores internacionais, esse mesmo governador que apela desesperadamente para se apresentar ao mundo como protetor da natureza, caminha em direção oposta, contrariando seus discursos perfeitos, Helder prepara o palco da COP 30 alicerçada sob a destruição, desmatamento e violação de direitos socioambientais de Belém.
É isso mesmo, destruição!
A região considerada em 2024 entre as dez grandes cidades com piores indicadores de saneamento básico do país, uma das 46 que sofreram semanas de maior calor extremo e que será a segunda cidade mais quente do mundo em 2050, coleciona mais um gargalo para seu ranking “a crise ecológica em geral”.
Com a abertura da avenida da liberdade perderemos as áreas verdes preservadas, e não havendo mais essa cobertura nos resta suportar o aumento das temperaturas, aumento da poluição sonora e atmosférica nas proximidades do novo traçado, sem contar no desaparecimento das espécies que correm o risco de serem extintas, pois esse desmonte acelera o processo de imigração forçada, deixando as espécies vulneráveis para serem atropeladas e/ou capturadas.
Parece uma história de terror, mais é a realidade, o futuro que nos espera após a COP 30, que vem justamente para a capital paraense discutir as condições climáticas do planeta.

Mesmo o Governo do Pará, afirmar que a avenida não integra o pacote de obras da COP30, isso não justifica a incoerência do estado, os discursos prontos dos tais “defensores ambientais” se contradizem, o evento veio para impulsionar o desastre, o próprio projeto de licenciamento ambiental que prevê a "supressão de cobertura vegetal" de 68 hectares, o equivalente a cerca de 95
campos de futebol.
Essa retirada de floresta, de vida é preocupante, hoje a Amazônia desempenha um papel vital na absorção de carbono para o planeta e na preservação da biodiversidade, e críticos dizem que esse desmatamento contradiz o próprio propósito de uma conferência climática, professores renomados do estado alertam sobre esse impacto, mais até agora, tudo que o governo enxerga a sua frente são as lucratividades benéficas que segundo eles irão receber.
A Profa. Dra. Médica Veterinária Ana Sílvia Sardinha, coordenadora do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (CETRAS) da UFRA, atua no hospital universitário de animais que fica de frente para o local onde a nova estrada está sendo construída, realizando a reabilitação de animais silvestres feridos, principalmente por causas humanas ou atropelamentos, e depois de
recuperados, eles são devolvidos à natureza. A mesma, afirma que com o desmatamento provocado “Vamos perder uma área para soltar esses animais de volta à natureza, o ambiente natural dessas espécies", e que embora essas conversas aconteçam "em um nível muito alto, entre empresários e autoridades governamentais", quem vive na Amazônia "não está sendo ouvido".
Por fim, o doutor em Ciências Biológicas e Pesquisador Titular da Coordenação de Botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi, Leandro Valle Ferreira, diz: A construção dessa rodovia causará profundos impactos ambientais às unidades de conservação da Região Metropolitana de Belém, a sustentabilidade de populações naturais em longo prazo que ficarão isoladas nos fragmentos, podendo resultar na perda de espécies devido ao isolamento dessas populações, provocando a extinção local mais rápida e ao mesmo tempo dificultar a colonização em razão da alta resistência à dispersão de indivíduos entre os fragmentos florestais. Concluo que não é somente a supressão das
árvores que está ocorrendo, mais sim, a morte gradual e precoce ambiental e histórica da região belenense, que não por falta de alternativas tem seguido rumo a perda irreversível da sua biodiversidade.
Redatora: Cristiane Silva
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